O aumento do preço do litro do gasóleo, que subiu hoje 48%, dos 135 kwanzas (15 cêntimos de euro) para 200 kwanzas (cerca de 20 cêntimos de euro), é assunto do dia, sobretudo nos postos de abastecimento, com os cidadãos angolanos a anteverem dias difíceis.

No posto de abastecimento da Rádio Nacional de Angola, centro de Luanda, os novos preços foram já afixados, mas muitos consumidores dizem-se surpresos com a medida, que entrou em vigor às 00:00, perspetivando o agravar da situação "já difícil", dos cidadãos, que se socorrem dos táxis (transportes privados com nove lugares, conhecidos também como candongueiros ou 'azul e branco') para circular.

Os taxistas falam já do aumento da tarifa do táxi, que varia atualmente entre 150 kwanzas e 200 kwanzas, dependendo da distância, como alternativa para fazer face aos atuais preços do combustível, gasóleo 200 kwanzas e gasolina 300 kwanzas (0,3 euros), queixando-se de duplicar os gastos diários.

"Está muito disparado o preço, nós, anteriormente com 2.700 kwanzas (três euros) tínhamos 20 litros, agora encontramos 20 litros no valor de 4.000 kwanzas (4,4 euros) isso está mal, têm de ver essa situação, vai criar muitos transtornos no nosso trabalho e também aos passageiros", disse Pedro Capitão Paulo à Lusa.

Capitão Paulo, taxista há 10 anos e que acorreu ao Posto de Abastecimento do Atlético, Avenida Deolinda Rodrigues, para abastecer o seu "azul e branco" a gasóleo quer subir o preço da tarifa "para responder às expectativas do preço do combustível".

"Porque prestamos contas aos patrões, agora nesse preço a 4.000 kwanzas [para 20 litros], prestamos contas diárias de 25.000 kwanzas (27 euros) é muito complicado", lamentou.

A bordo de uma viatura diesel encontra-se também o taxista Vitorino Lourenço, no posto de abastecimento da RNA, que se manifestou surpreendido com o novo preço do gasóleo, acreditando em "mexidas" no preço da tarifa do táxi.

Há 10 anos na via, Vitorino reconheceu que doravante deverá fazer novas despesas para abastecer a viatura e apela a um posicionamento da associação dos taxistas por se estar diante de uma medida "complicada".

Moisés Katiavala Marcelino, que acorreu hoje às bombas do Atlético em busca de gasóleo, concorda, lembrando que as associações destes profissionais reagiram anteriormente face à remoção dos subsídios estatais à gasolina, no ano passado.

Após abastecer a viatura, o taxista com 15 anos de atividade disse que diariamente gastava 6.000 kwanzas (6,7 euros) para encher o depósito, valores que, acredita, vão duplicar pedindo subida dos salários para "equilibrar" o aumento dos combustíveis.

"Seria melhor que a subida do preço do combustível fosse acompanhada com a subida dos salários, isso é que é legal", atirou.

Osvaldo Paulo, mototaxista há mais de cinco anos, disse à Lusa que o país está a viver momentos difíceis e que a situação deverá agravar-se: "Neste contexto, com a subida do preço do gasóleo, também pode vir subir o preço da corrida do táxi, porque se o gasóleo não subisse também as coisas não iriam subir (...)", realçou à saída das bombas de combustível da RNA, onde o comunicado dando conta dos aumentos também está afixado.

Taxistas, mototaxistas e demais automobilistas afluem com normalidade aos postos de abastecimento de combustível, que não registam filas e dispõem de letreiros com o novo preço do litro do gasóleo.

O preço dos restantes produtos, em regime de preços fixados, nomeadamente a gasolina, o petróleo iluminante e gás de petróleo liquefeito (GPL), mantém-se inalterados.

O Governo angolano deliberou o ajuste gradual dos produtos derivados de petróleo para níveis de mercado até 2025, iniciando o processo com a alteração do preço da gasolina em junho de 2023.

*** Domingos Silvano da Silva (texto) e Ampe Rogério (fotos), da agência Lusa ***

DYAS (RCR) // JMC

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