Rosa é surda. Tem 13 anos de idade, cabelos longos e negros, veste um casaco cor-de-rosa e as suas disciplinas preferidas são Educação Visual e Educação tecnológica.

Rosa conta à Lusa, com a ajuda de uma intérprete de Língua Gestual Portuguesa (LGP), em tempo real, a importância que tem para ela poder assinalar o Dia Nacional de Educação dos Surdos, porque lhe permite interagir com outros alunos surdos de outras escolas e de outros países, assim como conhecer vários intérpretes de LGP portugueses e espanhóis.

"É um dia perfeito. É ótimo", assume a adolescente, referindo que é essencial que haja intérpretes nas escolas para os alunos surdos poderem entender as matérias lecionadas pelos professores e para que a mensagem passe, pois, caso não existam, "não percebe nada".

"É urgente o amor" é a frase de boas-vindas dada a Rosa e a mais de 600 alunos surdos de 22 escolas portuguesas e uma escola de Madrid (Espanha), que hoje se reuniram na Escola Secundária Eugénia de Andrade, no Porto, para participar em várias atividades lúdicas inclusivas.

Em declarações à Lusa, Sara Pinho, intérprete de LGP na Escola Eugénio de Andrade, explica que o evento foi organizado para assinalar o Dia Nacional da Educação de Surdos e da Juventude Surda, que começou a ser assinalado em 1997 e que, durante décadas, lutou pelo reconhecimento da LGP como uma língua oficial e para ser o principal veículo de acesso à educação e informação.

"Como um agrupamento dinâmico que somos, decidimos receber escolas de referência de todo o país, incluindo as ilhas, e uma escola que vem de Madrid, para termos um dia cheio de atividades lúdicas, desportivas, culturais e até de culinária".

Apesar das muitas "conquistas feitas" para a comunidade de alunos surdos em Portugal, designadamente haver intérpretes de LGP nas escolas públicas portuguesas, haver terapia da fala, e desenvolver um "ensino inclusivo preparado", Sara Pinho destaca que uma das maiores batalhas que estão a travar é que as escolas tenham "oferta complementar para que os alunos ouvintes aprendam a LGP, para facilitar a comunicação e para criar escolas "verdadeiramente bilingues".

"É uma boa prática e que gostaríamos de ver reproduzida em todo o país, inclusive naquelas que não têm alunos surdos, para que, de futuro, um aluno surdo ou uma pessoa surda lá fora possa fazer a sua vida normal, em que a sociedade saiba comunicar em linguagem gestual, pelo menos o básico, para que não haja tantas barreiras, nem tanta falta de acesso à informação".

Gabriela, 15 anos, é uma aluna que veio hoje de uma escola de Madrid para comememorar o dia no Porto. Em entrevista à Lusa, revela que começou a aprender a língua gestual aos 3 anos de idade e assume que é muito importante celebrar este dia, para sensibilizar as pessoas sobre a necessidade de todos os jovens e todos os adultos, mesmo os que não têm problemas de audição, aprenderem a língua gestual.

"É muito importante, porque nem todas as pessoas conseguem comunicar-se falando inglês, ou outras línguas, e portando, penso que todos deveríamos aprender", declara Gabriela, que diz que tem "muitíssimos amigos surdos".

Nicole tem 9 anos e veio hoje da Ilha da Madeira para celebrar o Dia Nacional da Educação dos Surdos no Porto.

Para Nicole, é importante celebrar este dia para poder conhecer outras crianças surdas e poder contactar com alunos surdos de Portugal inteiro e até de Espanha.

Em Portugal existem pelos menos dois mil alunos surdos nas escolas públicas em Portugal, disse Sara Pinto.

O Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade tem 45 anos de história e é considerada uma referência nacional na área da Educação de Surdos, desenvolvendo os preceitos da Educação Inclusiva, ou seja, uma escola de todos, com todos e para todos.

*** Cecília Malheiro (Texto), André Sá (Vídeo) e José Coelho (Fotos), da agência Lusa ***

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