"O que vemos agora e desde que a dívida foi divulgada é que as pessoas já estavam a antecipar receitas que não estão lá ainda; houve um incentivo para consumir e gastar mais, e esperamos que tenham aprendido a lição de conter os gastos desenfreados dos últimos anos", disse Federico Bonaglia.

Em entrevista à Lusa à margem da apresentação da edição portuguesa do relatório "Perspetivas Económicas em África 2017: Empreendedorismo e Industrialização", que decorreu em Lisboa, este italiano comentou também as relações entre o Governo de Moçambique e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exige a divulgação total do relatório da auditoria à dívida escondida, perante as reticências do Executivo.

"Moçambique está numa situação crítica em termos da dívida pública; há discussões sobre como lidar com este grande nível de endividamento e o FMI está à espera que o Governo faça alguma coisa", disse Bonaglia.

Questionado sobre a solução que o Governo e as instituições financeiras vão encontrar para os 1,4 mil milhões de dólares em dívida escondida que não estão a ser pagos aos credores, para além de mais de 727 milhões de dólares em títulos de dívida pública cujas prestações também não estão a ser pagas, colocando o país em 'default', o diretor adjunto do Centro de Desenvolvimento da OCDE respondeu:

"Não somos uma instituição financeira internacional, mas do nosso ponto de vista e depois da discussão que tivemos com os banqueiros centrais lusófonos [reunidos esta semana em Lisboa para uma conferência do Banco de Portugal], o que entendemos é que o Governo e o banco central estão a fazer esforços para aumentar a transparência e divulgar informação, mas esta experiência é muito complicada", disse Federico Bonaglia.

"Os preços das matérias-primas vão subir um pouco e trazer uma nova energia, um novo fôlego, mas é claro para Angola e Moçambique que há uma necessidade muito grande de diversificar a economia, em particular em Angola, porque Moçambique já tem uma aposta significativa na agricultura, no alumínio e no carvão", considera o economista da OCDE.

A avaliação feita pela OCDE, Banco Africano para o Desenvolvimento e Nações Unidas no relatório divulgado em agosto aponta para um abrandamento do PIB, de 6,6% em 2015 para 4,3% no ano passado, com uma recuperação para 5,5% este ano e uma aceleração para 6,8% em 2018.

A redução do PIB no ano passado explica-se por "uma maior restrição orçamental, uma quebra do investimento direto estrangeiro e, ainda, devido à crise da dívida oculta", lê-se no documento, que alerta que "embora a incidência de pobreza tenha diminuído, o número de pessoas pobres permanece quase o mesmo, num ambiente de crescentes desigualdades".

MBA // PJA

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