A posição do antigo primeiro-ministro português consta de uma carta, datada de 04 de abril e escrita a partir de Lisboa, em que expõe a sua visão sobre "os desafios e oportunidades que as Nações Unidas e o próximo secretário-geral podem encontrar em campos como a paz e segurança, desenvolvimento sustentável, direitos humanos, resposta humanitária e temas relacionados com a gestão da organização".

"A prevenção também é crucial no combate ao terrorismo. A força deve ser usada quando necessário e em consonância com a Carta" das Nações Unidas, sustenta Guterres no documento, com cinco páginas, intitulado "Desafios e Oportunidades para as Nações Unidas".

Depois de sublinhar que os ataques terroristas não atingem apenas as vítimas diretas, mas "todos os que subscrevem os objetivos e princípios da Carta", o ex-alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Refugiados considera que "a comunidade internacional tem o direito legal e o dever moral de agir coletivamente para pôr um fim ao terrorismo 'em todas as suas formas e manifestações, cometido por quem quer que seja, onde quer que seja e com quaisquer fins'".

"Ao fazê-lo, não devemos ceder ao medo nem abdicar dos nossos valores", que são "a força vital na mobilização coletiva contra a intolerância, o extremismo violento e a radicalização", acrescenta.

Guterres aponta que "o mundo gasta muito mais energia e recursos em gerir crises do que a preveni-las", pelo que deve comprometer-se com uma "cultura de prevenção", prevista desde 2005, "mas ainda por materializar".

Assim, o candidato português pede um reforço na "diplomacia para a paz" e considera que o secretário-geral deve exercer "os seus bons ofícios e capacidade de mediação" como um "construtor de pontes e mensageiro de paz".

Por outro lado, deve ser desenvolvida uma arquitetura operacional para a paz para procurar um "continuum de paz", com as Nações Unidas a assegurar a primazia das soluções políticas. Outro elemento de prevenção de crises é o investimento na capacitação e construção institucional dos Estados.

Com os objetivos para o desenvolvimento sustentável já traçados -- nomeadamente com a Agenda 2030 e o acordo de Paris sobre o clima -, o foco agora deve ser "na ação" e a palavra-chave é "implementação, implementação, implementação".

O respeito pelos direitos humanos é essencial para a paz e para o desenvolvimento sustentável e, neste aspeto, o secretário-geral deve garantir que esta é uma preocupação transversal a todo o sistema das Nações Unidas, sustenta António Guterres, para quem a organização deve liderar o movimento global pela igualdade de género.

"É óbvio que não há soluções humanitárias para problemas humanitários. A solução é sempre política", refere, afirmando que a migração "deve ser uma opção, não uma necessidade; feita em nome da esperança e não do desespero".

Atualmente, "a natureza do conflito está a mudar, com uma multiplicidade de atores armados, muitos aplicando métodos assimétricos", aponta o antigo governante português, que identifica, entre os desafios atuais, o terrorismo, crime organizado internacional, tráfico, epidemias e mudanças climáticas.

Para ser mais eficaz na resposta aos problemas, a ONU deve apostar mais na cooperação e numa melhor coordenação "focada nos resultados e não no processo", e desenvolver "uma forte cultura de parcerias" com organizações regionais, com instituições financeiras internacionais e com a sociedade civil e o setor privado.

Guterres será ouvido, no âmbito da sua candidatura, no próximo dia 12, pelas 15:00 (em Nova Iorque, menos cinco horas que em Lisboa).

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