"A Conferência Episcopal Portuguesa [CEP], agora em Roma, na sua visita 'ad Limina', para encontros de trabalho com o papa Francisco e as instituições da Santa Sé, deseja contribuir para uma resposta concreta, em colaboração com o Estado e a comunidade internacional", refere uma nota hoje divulgada pela Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, que pertence à CEP.

Os bispos portugueses, que estão no Vaticano para o encontro obrigatório, de cinco em cinco anos, com o papa, consideram ser importante "agir em rede europeia e internacional", para "não se perderem esforços nem se diluírem responsabilidades", até porque, assinalam, "se trata de uma operação de futuro complexo".

No dia em que foi lançada, em Lisboa, a Plataforma de Apoio aos Refugiados, que agrega várias organizações nacionais da sociedade civil, os bispos decidiram associar-se à iniciativa.

A plataforma, à qual já aderiram cerca de 30 organizações, propõe-se criar condições para receber "com qualidade" cerca de 1.500 refugiados, embora não seja um número fechado, e espera começar a receber as primeiras famílias, maioritariamente sírias, em finais de outubro.

A Comunidade Islâmica de Lisboa, uma das entidades, revelou disponibilidade para receber cerca de 250 refugiados, seja qual for a sua proveniência, embora espere que sejam maioritariamente sírios.

"Não têm de ser muçulmanos, até podem ser ateus", vincou o líder da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdul Vakil.

Da parte da Igreja Católica portuguesa, há a disponibilidade, via Santuário de Fátima, para ceder uma casa para acolher refugiados, informou na quinta-feira à Lusa o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, acrescentando que, hoje, as paróquias da diocese iam ser contactadas para se saber de que forma podem responder ao flagelo dos milhares de refugiados e migrantes que chegam à Europa provenientes de países em conflito, em África e no Médio Oriente.

Em agosto, António Marto avançara que a Igreja Católica estava disponível para acolher, nas suas instalações, refugiados, lembrando a situação que ocorreu quando milhares de retornados saíram das antigas colónias.

António Marto recordou, então, o "tempo dos regressados de África", em que se abriram "seminários, casas que acolheram refugiados durante muito tempo, até poderem sistematizar a sua vida".

À Lusa, o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, referiu, sem precisar os locais, que a sua diocese "já tem espaços identificados" para acolher refugiados, defendendo ser "necessário uma estratégia conjunta", de várias entidades, para garantir um acolhimento definitivo das pessoas.

De acordo com Jorge Ortiga, "não se trata de fazer um acolhimento de pessoas por um período curto", mas de "uma solução definitiva".

O arcebispo alertou também para a necessidade de se saber "como vão ficar as responsabilidades partilhadas" e de "quem vem", numa referência aos refugiados.

"Estamos empenhados, disponíveis para colaborar com todas as entidades, governativas, autárquicas e outras, e com a sociedade civil para ajudar nesta situação", assegurou o também presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

O ministro-Adjunto e de Desenvolvimento, Miguel Poiares Maduro, afirmou na quinta-feira, após a reunião de Conselho de Ministros, que Portugal tem disponibilidade para acolher mais refugiados do que os 1.500 que têm sido mencionados, e anunciou a constituição de um grupo de coordenação a nível nacional sobre a matéria.

No final de julho, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse que Portugal poderia acolher 1.400 refugiados, concentrados na Grécia e no sul de Itália.

Antes, a 26 de junho, no final do Conselho Europeu em Bruxelas, Bélgica, o primeiro-ministro declarou que Portugal defendeu um ajustamento dos critérios que indicavam que o país deveria acolher 2.400 pessoas.

O Governo Regional da Madeira, as misericórdias do Porto e da Covilhã e vários municípios já se manifestaram disponíveis para acolher refugiados e migrantes.

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