Em entrevista à Lusa, o académico explicou que "há uma tentativa de acabar com a supremacia do dólar e do euro nos mercados internacionais, e isto é positivo para os países africanos, que são os maiores beneficiados, desde logo porque se adotarem a moeda chinesa acabam com a obrigação de pagar em dólares".

O investigador da Universidade Lusíada, no Porto, relaciona a aposta da China no continente africano e o acolhimento positivo destas nações com a depreciação das moedas africanas, que nos últimos meses têm perdido valor face ao dólar, como por exemplo Moçambique e Angola, com desvalorizações que rondam os 40%.

"A China é o maior parceiro comercial de África, e como importam, faz todo o sentido ter um fundo de reserva para além do dólar, e mesmo num espaço geográfico diferente, isso abre a possibilidade de transacionar bens de forma mais rápida e célere", acrescentou o investigador, que viveu no Japão durante dez anos.

A aposta da China em África não começou pela vertente financeira, mas sim pela económica, apoiando muitos projetos de infraestruturas em diversos países africanos, mas evoluiu para a parte financeira através dos empréstimos que o Eximbank, o braço financeiro externo do Governo chinês, tem feito nos últimos anos, somando milhares de milhões de dólares - em 2014 o valor da ajuda chinesa a África, em sentido lato, ultrapassou pela primeira vez os 200 mil milhões de dólares.

"A Ásia já tem um concorrente ao Fundo Monetário Internacional, a China é um dos países com maior hegemonia no G20 e é um dos BRIC", salientou Amakasu Raposo para sublinhar a importância da segunda maior economia mundial para os países africanos, que encontram no gigante asiático um modelo de ajuda económica diferente daquele usado pelos doadores internacionais.

"O Japão centra-se mais na ajuda do desenvolvimento, menos investimento e menos comércio, essa é a grande diferença face à China, que tinha uma política mais centrada no comércio e no investimento, e só depois dava prioridade à ajuda", disse o investigador, acrescentando que "hoje em dia a grande vantagem da China sobre o Japão é que se centra sempre na cooperação, mas com muito investimento e comércio; já dá tanta ou mais ajuda que o próprio Japão".

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