Nem a Uber nem o governo da Região Administrativa Especial quiseram, questionados pela Lusa, comentar o assunto.

Uma carta da Uber Ásia citada hoje pela imprensa local e publicada na página pessoal do Facebook do deputado Au Kam San na quarta-feira diz que "o governo ainda não está disposto a definir um calendário para a legislação que regula os serviços de carro partilhado [que a Uber tem vindo a fornecer]. Enquanto isso, tem aplicado multas extraordinariamente pesadas para os nossos motoristas, tornando-nos incapazes de operar em Macau", refere a carta.

"09 de setembro será o nosso último dia de serviço [em Macau]", acrescenta a carta assinada pelo diretor geral da Uber Ásia, Mike Brown, entre outros responsáveis.

O deputado Au Kam San disse, citado pelo jornal Tribuna de Macau, que a carta da Uber foi enviada a todos os deputados da Região Administrativa Especial, a pedir para expressarem a sua opinião sobre o serviço junto do governo, depois de tentativas de contacto falhadas, nomeadamente com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.

Na carta, a empresa lamenta a atuação da polícia, descrevendo além da aplicação de "multas pesadas", situações como passageiros levados para as esquadras para investigação ou a entrada nos domicílios de motoristas da Uber sem mandado.

Uma missiva semelhante terá sido entregue ao chefe do Executivo, Chui Sai On, a 16 de agosto.

A empresa alega ter contratado mais de 2.000 condutores a tempo inteiro ou parcial em Macau, gerando "um efeito económico superior a 21 milhões de patacas (2,3 milhões de euros)".

Os deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong convocaram um protesto contra a saída da Uber, para 04 de setembro, às 15:00, na praça do Tap Seac.

"A saída [da Uber] é um sinal de que Macau recusa qualquer progresso. Mas não acho que devemos apenas lutar por esta empresa, temos é de mudar o sistema", disse à Lusa Ng Kuok Cheong, ressalvando que a carta que todos os deputados receberam chegou através da Assembleia Legislativa.

Além da manifestação, foi também criada uma petição online contra a saída da Uber de Macau, que até à tarde de hoje contava com mais de 150 assinaturas. O documento acusa os autocarros de "estarem sempre demasiado cheios", os táxis de "nunca estarem lá quando é preciso" e os lugares de estacionamento que "estão sempre em falta".

"Os problemas do nosso terrível sistema de transportes nunca foram resolvidos, no entanto o governo está a expulsar a Uber da cidade com uma inesperada eficiência", refere a petição.

O serviço da Uber, que põe motoristas privados em contacto com potenciais passageiros através de uma aplicação de telemóvel, é considerado ilegal pelas autoridades de Macau que aplicam multas de 30.000 patacas (3.300 euros) nos casos em que "os veículos são utilizados em serviço remunerado com finalidade diferente da autorizada ou da constante da sua matrícula".

Na segunda-feira, numa apresentação de um balanço da criminalidade, o comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Leong Man Cheong, disse que foram pagas 346 multas das 379 infrações registadas desde que a Uber iniciou atividade em Macau em outubro, correspondendo a 10,38 milhões de patacas (1,15 milhões de euros).

Na mesma ocasião, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, disse que o governo não fazia pressão para a saída da empresa e que as autoridades se limitavam a aplicar a lei.

Um porta-voz da Uber para as operações na Ásia-Pacífico disse ao jornal South China Morning Post que o serviço não seria afetado em Hong Kong, mercado que segundo a mesma fonte regista um dos mais rápidos crescimentos da região.

Pequim anunciou no final de julho a legalização das atividades da Uber, da Didi Chuxing e de outras aplicações de transporte.

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