O Governo cabo-verdiano negociou a cedência à companhia Binter Cabo Verde das rotas internas da empresa Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) a partir de agosto com a entrada do Estado em 49% do capital social da empresa, estando também a reestruturar a operação internacional com vista à sua privatização.

O responsável da empresa, que falava hoje na Comissão Especializada de Finanças e Orçamento da Assembleia Nacional, adiantou que existe um estudo da anterior gestão que apontava para o despedimento de 140 pessoas e que a descontinuidade dos voos internos deverá implicar mais 100 a 120 despedimentos.

"Acreditamos que podem ser [dispensadas] à volta de 100 a 120 pessoas com a descontinuidade do mercado doméstico e regional", o que, segundo disse, equivale a uma redução em quase metade dos funcionários

José Luís Sá Nogueira adiantou ainda que, dependendo da estrutura do negócio, a operação internacional deverá "conseguir reter" entre 180 e 200 trabalhadores e que 30 trabalhadores deverão integrar a Binter CV, que passará a operar três aviões em vez dos atuais dois.

Segundo o presidente do Conselho de Administração (PCA) da TACV, a empresa deverá gastar 13,6 milhões de euros em indemnizações aos trabalhadores dispensados.

Durante a audição parlamentar, José Luís Sá Nogueira passou em revista o histórico de problemas financeiros da empresa, adiantando que a operação no mercado doméstico representava um prejuízo anual entre 4,5 a 5,4 milhões de euros.

"A TACV inflou e depois de vários anos chegou ao estado em que está hoje com custos operacionais elevadíssimos e, apesar de uma ocupação de 75% [no mercado interno], não é sustentável", disse, considerando que a parceria com a Binter CV foi o recurso certo para resolver a situação.

José Luís Sá Nogueira defendeu ainda que "não há mercado que aguente dois operadores aéreos".

"A TACV transporta por ano cerca de 350 mil passageiros com dois aviões. Com a entrada da Binter somos obrigados a dividir. Se estamos com prejuízos de 4,5 a 5,4 milhões de euros por ano se formos dividir 50/50, imagine-se para onde vai esse prejuízo. Não se justifica", disse.

O PCA apresentou também aos deputados os resultados provisórios da TACV em 2016, estimando que o passivo da empresa se venha a reduzir de 120 para 93 milhões de euros.

Nesse ano, segundo o responsável, entre janeiro e setembro, a empresa emitiu obrigações no valor de 4 milhões de euros e recebeu injeções de dinheiro do Estado, único acionista, na ordem dos 13,4 milhões de euros.

O processo de gestão, reestruturação e privatização da TACV está a ser escrutinado pelos deputados da Comissão Especializada de Finanças e Orçamento, que têm vindo a promover uma série de audições com anteriores e atuais responsáveis pela gestão da companhia e responsáveis políticos do anterior (PAICV) e atual governos (MpD).

CFF// ATR

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