"A afronta ao Estado moçambicano pelo grupo de malfeitores em alguns distritos do norte da província de Cabo Delgado é um desafio imediato e deve merecer a pronta e eficaz resposta das Forças Armadas de Defesa de Moçambique [FADM], com o vosso individual envolvimento", disse Filipe Nyusi.

Filipe Nyusi falava durante a cerimónia de promoção de oficiais indicados pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas Forças Armadas de Moçambique, no âmbito dos consensos alcançados nas negociações de paz no ponto sobre a desmilitarização do braço armado do maior partido de oposição.

O chefe de Estado moçambicano falava sobre os ataques de grupos armados a povoações remotas da província de Cabo Delgado, situada entre 1.500 a 2.000 quilómetros a norte de Maputo, desde outubro de 2017, tendo provocado um número indeterminado de mortos e deslocados.

Os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

Para o chefe de Estado de Moçambique, cabe às FADM defender a independência, soberania e integridade do Estado, numa altura em que ameaças exigem maior união entre os moçambicanos.

Nyusi destacou ainda que os oficiais promovidos devem usar a sua experiência para garantir a paz e estabilidade no país num ambiente de união e respeito pela nação, valores que estão incluídos nos entendimentos entre o Governo e a Renamo.

"Hoje testemunhamos novamente que as FADM são um laboratório de preservação da paz, coesão e reconciliação dos moçambicanos", observou o chefe de Estado moçambicano, lembrando que estes oficiais já estavam a servir o país dentro do exército.

Entre os promovidos destaca-se os coronéis Xavier António e Araújo Anderiro Maciacona ao posto de brigadeiro e o capitão-de-mar-e-guerra Inácio Luís Vaz ao posto de comodoro.

No total, foram 18 oficiais patenteados, entre majores, tenentes-coronéis, coronéis e brigadeiros, num evento que contou com a presença de várias personalidades, entre quadros do Governo e antigos mediadores de processo negocial entre o Governo e a Renamo.

O Coronel Arone Alberto Nema, que foi promovido hoje, disse à Lusa que os desafios são vários, desde a defesa da pátria até a preservação da paz no país.

"Eu esperava por esta patente há muito tempo. Eu fiquei como capitão por 25 anos, mas eu já sabia que iria ascender a uma patente que me satisfizesse", observou o coronel, acrescentando que a paz veio para ficar.

No dia 06 deste mês, o Presidente moçambicano anunciou a assinatura de um memorando de entendimento entre o Governo e a Renamo sobre a desmilitarização e a integração das forças do principal partido da oposição no exército e na polícia.

O chefe de Estado moçambicano não avançou detalhes sobre o conteúdo do documento, mas afirmou que se trata de um instrumento "determinante" nas negociações de paz com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu em 03 de maio devido a complicações de saúde.

O atual processo negocial entre o Governo moçambicano e a Renamo arrancou há um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à Gorongosa, centro de Moçambique, para uma reunião com Dhlakama no dia 06 de agosto do ano passado.

Além do desarmamento e integração dos homens do braço armado do maior partido de oposição nas forças armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição em julho.

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