"Um dos aspetos que queríamos deixar claro é que prestemos um pouco mais de atenção e algum cuidado quando estamos a dar fé a algumas coisas que vêm nas redes sociais", declarou o porta-voz da PRM, Inácio Dina, sugerindo que as imagens, divulgadas pela Lusa sobre os 15 corpos tenham sido manipuladas.

Pelo menos 15 corpos estão visíveis, espalhados ao abandono na região da Gorongosa, perto de uma vala comum denunciada por camponeses, numa zona fortemente vigiada por militares, testemunhou no local um pequeno grupo de jornalistas, que incluía a Lusa.

A presença dos militares não permite o acesso à vala comum onde, segundo camponeses, se encontram mais de cem corpos, mas é visível uma dezena e meia de cadáveres nas imediações, espalhados pelo mato e alguns deles despidos.

Inácio Dina afirmou que a polícia moçambicana valorizou as informações sobre a existência da vala comum e dos 15 corpos, argumentando que está interessada no apuramento da existência das mesmas.

"A polícia não desvalorizou qualquer informação, dai que imediatamente foi mandatada uma comissão de trabalho, que junto às lideranças locais, não conseguiu apurar a veracidade dessas informações", acrescentou Dina.

Dos 15 corpos encontrados por um pequeno grupo de jornalistas no local, quatro foram largados numa pequena savana, a cerca de 200 metros do cruzamento de Macossa para o interior, e os outros foram deixados debaixo de uma ponte próxima da Estrada Nacional 1, a principal estrada de Moçambique.

O local onde foram depositados estes corpos fica a seguir à ponte sobre o rio Muare, no sentido Gorongosa-Caia, e onde se tem feito, ainda que de forma tímida, extração ilegal de ouro.

Os cadáveres são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, entre a presença de abutres.

Quanto à vala comum principal, segundo os camponeses, localiza-se na zona 76, entre Muare e Tropa, no posto administrativo de Canda, distrito da Gorongosa, uma região que se mantém sob vigilância de militares e da polícia e que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

"A comissão de trabalho que foi criada para se deslocar ao suposto local, zona 76, a que se faz referência, não encontrou nenhuma evidência, não localizou a tal vala comum e não conseguiu identificar os tais supostos camponeses, que teriam mostrado o local ou teriam prestado alguma declaração", afirmou o porta-voz do da PRM.

As autoridades locais desmentiram na sexta-feira a existência da vala comum, antes da divulgação, através da Lusa, das imagens dos corpos encontrados nas suas imediações.

Mas as testemunhas reiteram a sua versão. "É verdade, vimos os corpos", afirmou um dos camponeses, que não se quis identificar, contando que o grupo em que seguia foi atraído pelo forte cheiro de putrefação exalado pelos cadáveres.

Apesar dos desmentidos, a Comissão de Direitos Humanos de Moçambique quer apurar a veracidade dos relatos, adiantado que, a confirmarem-se, é um caso "muito preocupante" e instando o Ministério Público a investigar.

A Renamo, principal partido de oposição moçambicana, defendeu hoje uma investigação internacional e também Daviz Simango, líder do terceiro partido moçambicano no parlamento, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), exige o envolvimento da justiça e da Assembleia da República.

O Governo central ainda não se pronunciou sobre este assunto, tal como a Procuradoria-Geral da República.

PMA (AYAC/HB) // EL

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