A organização de direitos humanos cita fontes hospitalares que apontam para dois mortos e 146 feridos, incluindo 37 baleados, entre os manifestantes, durante os protestos que se prolongaram por várias semanas, ocorridos em Conacri, capital do país.

Num relatório, a organização reúne entrevistas com mais de 100 testemunhas e vítimas, e denuncia o envolvimento das autoridades locais na morte de um homem.

A HRW diz que uma mulher do grupo étnico Fulani foi vítima de violação em grupo, durante a sua detenção por forças de segurança da capital, que lhe disseram: "vimos-te nas manifestações; isto é para aprenderes a não te meteres em problemas".

"Devido ao nível atual de tensão politica e étnica, e o potencial para ações violentas relacionadas com as eleições em curso, o governo deve intervir contra estes abusos", disse a responsável da HRW para a África Ocidental, Corinne Dufka, numa declaração.

Após as manifestações, a organização passou dez dias a visitar clínicas e hospitais e a entrevistar locais de vários grupos étnicos e partidos políticos que foram vítimas ou testemunhas da violência.

O debate em torno da definição do calendário das eleições desencadeou semanas de confrontos entre ativistas antigovernamentais e forças de segurança em Conacri e outras cidades no interior do país, com a oposição a relatar vários mortos e dezenas de feridos.

A oposição, que apelou para a realização de eleições locais antes do fim do atual mandato do Presidente Alpha Condé, previsto para outubro, acusa o chefe de Estado de rejeitar o apelo, considerando que este quer manter nas autarquias pessoas de confiança para garantir uma plataforma de apoio para as eleições presidenciais.

Na recusa do apelo, o Presidente justificou a decisão alegando que os funcionários locais não participarão nas presidenciais.

As forças de segurança dizem que pelo menos 77 polícias ficaram feridos, 28 dos quais em condição muito grave, quando tentavam controlar os manifestantes.

"Em inúmeras ocasiões, forças da polícia, e em menor grau, seguranças, utilizaram força excessiva, agrediram manifestantes indefesos e destruíram propriedade privada", lê-se no relatório da HRW.

No mesmo documento, a organização refere que alguns dos manifestantes envolveram-se também em furtos e ações de banditismo, roubando civis e atacando ativistas pró-governamentais.

JOYP // EL

Lusa/Fim