O diário eletrónico Mediafax questiona em título: "A Ordem para fuzilar: De Onde veio?" E prossegue com o tema do homicídio no segundo texto mais importante da edição, intitulado: "Cobardes mataram Gilles Cistac", depois de descrever a vítima no antetítulo como um "Homem de opiniões firmes e demasiadamente mal visto pelo poder do dia".

"O País", principal diário privado, abre a edição de hoje com o título "Terrorismo", a atravessar toda a capa e com a foto de Gilles Cistac tombado. O atentado é também destaque do jornal nas páginas dois e três, com vários depoimentos sobre a morte do constitucionalista.

Com uma foto da vítima deitada no chão e ensanguentada, no local do crime, o Notícias, principal diário do país, faz manchete com o baleamento do constitucionalista, intitulando: "Assassinado Prof. Gilles Cistac" e, mais abaixo, escreve, numa notícia mais pequena, "Responsabilizar os criminosos", citando António Gaspar, porta-voz do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

Menos contido, o semanário "Canal de Moçambique" faz manchete com o título: "Frelimo de assassinos", e desenvolve nas páginas seguintes os argumentos que levam o jornal a apontar o dedo acusador ao partido no poder, incluindo declarações de comentadores afetos à Frelimo vistos como hostis a Gilles Cistac.

Para o "Canal de Moçambique", no título da segunda página, a "Frelimo perdeu no debate de ideias e eliminou fisicamente o adversário".

O constitucionalista moçambicano Gilles Cistac foi assassinado a tiro na terça-feira de manhã por desconhecidos, à saída de um café no centro de Maputo.

O académico foi transportado ainda com vida para o Hospital Central de Maputo, onde acabou por morrer cerca das 13:00 locais (11:00 em Lisboa).

A polícia disse que segue a pista de quatro suspeitos, três negros e um branco, e que foi este último quem abriu fogo contra Cistac.

Na semana passada, o académico anunciou que ia processar um homem que, através da rede social Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Cistac de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.

Gilles Cistac, de origem francesa, era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo, partido no poder.

Em entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, principal partido de oposição) de criar regiões autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.

O Governo moçambicano considerou o atentado "um ato macabro" e espera que os autores sejam "exemplarmente punidos", enquanto a Renamo afirmou que o académico foi vítima de "perseguição política" motivada pelas suas posições recentes, e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) declarou que se tratou de um assassínio por encomenda.

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