"Já conseguimos salvar as pessoas, já não temos ninguém nas árvores e os barcos do INCG [Instituto Nacional de Gestão de Calamidades] estão a circular onde é possível", afirmou Carmelita Namashalua à Lusa e à Televisão de Moçambique, em Nicoadala, província da Zambézia, referindo que "todos os esforços estão ainda a ser feitos para ver se alguma população ficou sitiada".

A ministra da Administração Estatal e Função Pública sobrevoou hoje parte da província da Zambézia, a mais atingida pelas cheias nas últimas duas semanas e que já mataram mais de 80 pessoas, e pôde verificar o recuo progressivo das águas do rio Licungo, apesar de vastas áreas permanecerem alagadas, e visitou também alguns centros de acolhimento para desalojados.

Até sexta-feira, estavam contabilizadas 11.600 famílias, envolvendo mais de 50 mil pessoas, em 38 centros de acomodação, a maioria das quais na bacia do Licungo,

"A grande preocupação é descongestionar o centro de acomodação de Mocuba, estão lá mais de 1.100 famílias e é muito para um espaço tão pequeno", destacou Carmilita Namashalua, após ter visitado o local, onde milhares de pessoas construíram uma nova localidade em tendas e lonas, mantendo apenas aquilo que traziam no corpo.

"Já há talhões identificados, mas para isso temos de criar vias temporárias de transitabilidade e estamos trabalhar a todo o gás", disse a governante, referindo-se aos vários cortes de estradas, alagadas ou interrompidas por quedas de pontes, como foi o caso de Mocuba, onde a travessia sobre o Licungo cedeu, cortando a N1, a única via que liga o sul e o centro e norte de Moçambique.

Enquanto a ministra visitava hoje o centro de acomodação de Mocuba, os desalojados receberam em simultâneo o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, dando origem a várias manifestações partidárias, tanto do lado da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) como do maior partido de oposição.

Dhalkama referiu-se posteriormente a uma organização de distribuição "partidária" nos centros de acomodação e de se estar a esconder o tamanho real do desastre.

"As pessoas dizem que a comida é pouca, 25 quilos de farinha para dez famílias para muitos dias e quando têm sorte", disse Afonso Dhlakama à Lusa, acusando a Frelimo de controlar a cadeia de distribuição de ajuda e de discriminar os que não pertencem ao partido.

"Depois morreram muitas pessoas. Na parte norte do rio Licungo, as casas vinham até à ponte [de Mocuba]. Olhando para lá, tudo ficou praia, parece que alguém andou a cortar as casas, o que significa que muitas centenas de pessoas morreram", declarou o líder da Renamo, deixando um apelo à comunidade internacional "para que dê ajuda, porque a comida é pouca".

A ministra da Administração Estatal afirmou que ouviu hoje queixas de que "o problema não era o acesso aos víveres mas às quantidades", esclarecendo que, na primeira fase de resposta ao desastre, era preciso garantir que todos tivessem alimentação e que, agora que os centros de acomodação já estão organizados, é possível começar a distribuir produtos proporcionalmente ao números de cada agregado familiar.

Carmelita Namashalua lembrou que "não é possível travar as cheias em Moçambique", mas espera que se possa "saber viver com as calamidades naturais de forma positiva".

"É preciso educar as populações a viver nessa condições, fazer as machambas [hortas] nas zonas baixas e casas seguras nas zonas mais altas", explicou, recordando que isso já foi feito após as inundações nos vales do Zambeze e do Limpopo.

A ministra prometeu regressar à região dentro de um mês e "encontrar pessoas mais felizes", acreditando que basta dar-lhes um talhão de terra e "não vão esperar pelo Governo para reconstruir as suas vidas".

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