De acordo com uma nota enviada à agência de informação financeira Bloomberg, a equipa do Fundo visitará o país a partir de dia 22 de setembro, durante cerca de uma semana, para avaliar os recentes desenvolvimentos económicos e continuar a aconselhar as autoridades sobre as políticas macroeconómicas.

A missão, que surge na sequência da crise da dívida escondida e da degradação da generalidade dos indicadores macroeconómicos do país, incluindo as finanças públicas, servirá também para aferir o progresso na implementação do Orçamento do Estado para este ano, que já sofreu uma revisão.

Por outro lado, ainda segundo a bloomberg, os técnicos do FMI deverão também aferir as medidas de política monetárias implementadas pelo Banco de Moçambique na sequência do aumento da inflação e da descida do nível das reservas em moeda estrangeira.

A notícia da visita do FMI surge no mesmo dia em que o representante da instituição em Maputo, Alex Segura, numa entrevista à Rádio Moçambique, insistiu numa auditoria forense internacional à dívida pública de Moçambique.

"É importante avançar rapidamente para uma auditoria forense internacional", declarou Alex Segura, em entrevista à emissora pública Rádio Moçambique, defendendo uma investigação externa a par das averiguações da Procuradoria-Geral da República a este caso.

A auditoria deve apurar o destino dado às dívidas ocultadas pelo Governo anterior, contraídas entre 2013 e 2014, que no total ultrapassam dois mil milhões de euros, disse o representante do FMI.

"Os investidores continuam interessados em investir em Moçambique e isso vai trazer divisas, vai trazer dólares, mas para isso precisamos também da volta da confiança", enfatizou Alex Segura, que se prepara para abandonar o cargo.

Questionado sobre a reativação da cooperação financeira entre o FMI e o Governo moçambicano, interrompida na sequência da divulgação das dívidas não reveladas, Segura indicou que tal decisão dependerá dos resultados de uma missão da organização que vai visitar o país no próximo mês.

"Isso vai depender da avaliação da missão de setembro, que vai avaliar na prática os progressos efetivos e os avanços que foram feitos no âmbito da auditoria. Se todas as condições estiverem lá, vamos poder retomar as relações com o FMI, num prazo de tempo razoável, não posso dizer se será três ou quatro meses", disse Alex Segura.

Apesar de reconhecer que, no curto-prazo, o país vai continuar a enfrentar tempos difíceis, o representante do FMI afirmou que o Governo está a tomar medidas apropriadas no plano orçamental e monetário.

"Vou embora com a esperança de que o Governo está a tomar medidas apropriadas a nível Orçamento do Estado e do controlo da inflação", sublinhou Alex Segura.

Com as decisões que as autoridades decretaram, há expectativas positivas no que diz respeito à aplicação das recomendações macroeconómicas deixadas por uma missão do FMI em junho passado, acrescentou.

"Houve algumas recomendações no âmbito da política monetária e da política orçamental que estão a ser implementadas de forma muito rigorosa, e nessa parte estamos bastante satisfeitos", realçou.

O representante do FMI apontou a recente aprovação pela Assembleia da República do Orçamento do Estado retificativo e as medidas encetadas pelo Banco de Moçambique para a contenção da inflação e da derrapagem do metical, a moeda moçambicana, como ações importantes para a retomada da economia do país.

"Essas medidas podem tomar algum tempo, a médio prazo, mas Moçambique tem um enorme potencial, em recursos naturais, o carvão, por exemplo", frisou Alex Segura, apontando as potencialidades da economia moçambicana para superar a crise que enfrenta.

Moçambique atravessa um período de múltiplas crises, marcadas pelo arrefecimento do crescimento económico, forte desvalorização do metical face ao dólar, descida do preço das matérias-primas e das exportações, subida acentuada da inflação e queda do investimento estrangeiro e da ajuda externa, em resultado do escândalo dos empréstimos ocultados pelo Estado e que fizeram disparar os valores da dívida pública.

O país atravessa ainda uma crise política e militar entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que se agravou nos últimos meses e afeta a circulação de pessoas e bens na região centro.

Como consequência destes efeitos combinados, as intenções de investimento em Moçambique caíram 48% no primeiro semestre de 2016 comparativamente ao mesmo período do ano passado.

MBA (PMA/EL/HB) // GC

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