Na última ação de 'rating' sobre Angola, em março, a Fitch tinha já descido a Perspetiva de Evolução da avaliação da dívida soberana do país para "Negativa", antevendo-se esta reavaliação, face ao anterior 'B+', divulgada sexta-feira ao final do dia, conforme avaliação programada.

No relatório desta avaliação, a agência recorda que Angola continua a sofrer o "severo choque petrolífero", tendo em conta que 95% das exportações angolanas são petróleo e que metade das receitas fiscais do país provém dessas vendas, as quais caíram fortemente desde o final de 2014, com a baixa da cotação internacional do barril de crude.

"O setor petrolífero mantém algum dinamismo (a produção chegou em média aos 1,76 milhões de barris por dia em 2016), mas a Fitch espera que a economia cresce zero em 2016, descendo dos 3% em 2015 e com a pior performance em 14 anos [desde 2002, fim da guerra civil]", lê-se no documento.

Na revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) aprovado este mês pelo Governo angolano, a previsão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2016 passa dos anteriores 3,3% para 1,1%.

A agência de 'rating' prevê ainda uma inflação média de 30% para 2016, abaixo da previsão de 38,5% definida pelo Governo e dos 38,1% já atingidos em agosto (a um ano) último. Igualmente mais otimista é a previsão de défice das contas públicas, que se cifra em 5,8% do PIB em 2016, contra os 6,8% que o Governo definiu no OGE revisto.

Até 2018, aquela agência diz ainda esperar, em média, um défice orçamental de 5,5% do PIB, por ano.

Acrescenta que entre janeiro e agosto de 2016 o Banco Nacional de Angola vendeu apenas 6.000 milhões de dólares em divisas no mercado interno, contra os 12.000 milhões do mesmo período de 2015, o que "contribuiu" para o agravamento das taxas de câmbio e procura no mercado paralela.

Ocorreu igualmente, em paralelo, uma forte desvalorização do kwanza, face ao dólar norte-americano, pela que a Fitch conclui que o PIB 'per capita' em Angola desça este ano para 3.000 dólares, o valor mais baixo desta década.

A Fitch prevê que a cotação média do barril de crude no mercado internacional se mantenha nos 42 dólares, quando na revisão do OGE o Governo angolano baixou a previsão nacional de 45 para 41 dólares.

PVJ // SMA

Lusa/Fim