De acordo com o relatório sobre a Base Monetária Ampla do Banco Nacional de Angola (BNA), entre julho e agosto foram colocados em circulação (física) no país mais 19.966 milhões de kwanzas (102 milhões de euros).

Desde janeiro, quando o dólar atingiu valores máximos do ano, o BNA chegou a retirar de circulação mais de 78.100 milhões de kwanzas (400 milhões de euros), até final de junho, numa estratégia de valorização da moeda nacional.

Desde então que o banco central tem vindo a aumentar gradualmente o dinheiro em circulação, que em agosto voltou a níveis de fevereiro deste ano, ainda assim abaixo dos registos do dinheiro físico que circulava no país antes de 2014.

Em simultâneo, é habitual assistir a caixas da rede interbancária angolana (multibanco) sem notas disponíveis para levantamento.

Um dos efeitos mais visíveis da descida do número de notas e moedas em circulação desde janeiro é a subida e manutenção do valor do kwanza no mercado paralelo, travando a valorização do dólar norte-americano nestas transações, ilegais, mas também a única solução para quem tenta, sem sucesso, aceder a divisas nos bancos.

Depois de máximos de 500 kwanzas (2,70 euros) por cada dólar, nos primeiros dias do ano, comprar a nota norte-americana desceu, após quedas consecutivas, para os atuais cerca de 390 kwanzas (dois euros).

"Temos de mudar a nossa forma de usar e de lidar com dinheiro. Nos outros países raramente se usa a nota e nós queremos andar com um milhão ou dois milhões de kwanzas num saco de notas. Temos de reduzir o uso de notas", admitiu recentemente o governador do BNA, Valter Filipe.

No final de 2015, Angola tinha em circulação 519.588 milhões de kwanzas (2.665 milhões de euros).

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, admitiu recentemente que a retirada de circulação de moeda nacional é uma medida positiva, pelas repercussões no corte nas taxas de câmbio no mercado paralelo, que permanecem em mais do dobro do valor oficial.

"É uma medida muito importante, que ajuda no controlo da inflação e ajuda a reduzir o diferencial entre a taxa de câmbio do mercado de rua e a taxa oficial", destacou o chefe da missão do FMI, questionado pela Lusa.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre de 2016.

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente em cerca de 166 kwanzas (90 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

PVJ // FPA

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