A próxima 'ronda' de interpelações orais -- mecanismo que convoca o Executivo a fazer-se representar no hemiciclo -- é desencadeada por 16 deputados, incluindo 13 de um universo de 14 eleitos por sufrágio universal, isto quando faltam menos de seis meses para as eleições para a Assembleia Legislativa (AL), marcadas para 17 de setembro.

Apenas o empresário Chan Meng Kam -- 'campeão' dos votos nas eleições de 2013, quando conquistou três assentos -- não assina uma interpelação oral da próxima ronda cujos temas visam principalmente a tutela dos Transportes e Obras Públicas.

A controvérsia em torno da Lei de Terras figura como denominador comum de duas interpelações, da autoria de Mak Soi Kun e Zheng Anting.

Mak Soi Kun vai chamar a atenção para os "conflitos sociais" decorrentes da aplicação da lei, que entrou em vigor há três anos, mas que começou a ser contestada desde que o Governo decidiu avançar em força com a reversão de terrenos por não terem sido aproveitados dentro do prazo.

A maioria destes casos está a ser contestado judicialmente, com muitos concessionários a alegar que o Executivo teve culpa no processo.

O deputado refere que, por diversas vezes, alertou para "a necessidade" de se adotarem medidas para "prevenir o caos social", mas que "o Governo não só não avançou com nenhuma medida como nem sequer ligou à situação de caos", e cita o caso do terreno destinado ao empreendimento Pearl Horizon que o Executivo decidiu recuperar em 2015 por o projeto residencial não ter sido edificado dentro do prazo.

Esse caso -- que aguarda um desfecho em tribunal -- figura como um dos mais polémicos, tendo desencadeado uma série de queixas, petições e protestos por parte dos proprietários que adquiriram frações em planta.

Os lesados pedem ao Governo para intervir de forma a recuperarem o investimento feito em apelos que têm tido frequentemente eco no hemiciclo, como volta a suceder agora.

"Será que o Governo só vai tratar da situação quando surgirem mais famílias em desgraça?", questionou Mak Soi Kun, elencando, com base na imprensa, casos de doença, e até de morte, de proprietários do Pearl Horizon.

"Agora, os cidadãos centram a sua atenção em como resolver, pela raiz, o caos decorrente da aplicação da nova Lei de Terras, que perturba fortemente a tranquilidade social, afetando a vida da população", referiu o deputado, antecipando "mais tragédias" caso não seja possível encontrar soluções para os problemas sociais.

Neste sentido, defendeu que "o Governo deve definir melhores, mais substanciais e eficazes formas e medidas para resolver o fenómeno caótico decorrente da aplicação da nova Lei de Terras, em vez da atual forma de tratamento adotada", que tem sido aguardar pela respetiva decisão judicial para atuar.

Zheng Anting, igualmente eleito por sufrágio universal, também começa por constatar que, "até ao momento, ainda não há soluções para os vários problemas" decorrentes da Lei de Terras, advertindo até que nela se "escondem ainda mais bombas".

"O Governo frisou, em várias ocasiões, que só era possível 'governar de acordo com a lei' e 'retomar os terrenos de acordo com a lei', mas fazendo uma retrospetiva (...) verifica-se que não deu tempo suficiente aos concessionários para desenvolverem muitos terrenos ainda dentro do prazo [e] alguns não foram aproveitados a tempo por causa do Governo", argumentou o deputado, invocando casos concretos.

Neste âmbito, Zheng Anting pretende saber de que medidas dispõe o Executivo para "remediar" os casos em que foi por sua culpa que o aproveitamento dos terrenos não foi concluído dentro do prazo.

"A aplicação da Lei de Terras por parte do Governo causou já muitos conflitos sociais, e não são poucos os deputados que duvidam disto", afirmou.

O deputado lembrou que o presidente da AL, Ho Iat Seng, decidiu ouvir as gravações das reuniões em sede de comissão de análise na especialidade daquele diploma "para perceber a intenção legislativa".

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