De acordo com o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, divulgado hoje pelo BNA e a que a agência Lusa teve acesso, o banco central angolano realizou estas vendas em leilões, entre 19 e 23 de janeiro, a uma taxa média de referência do mercado cambial interbancário de 104,645 kwanzas (89 cêntimos de euro) por cada dólar.

Desde novembro que a taxa de câmbio não pára de subir, refletindo-se numa forte desvalorização do kwanza, a moeda nacional.

Na semana anterior, as mesmas vendas tinham-se cifrado em 159 milhões de dólares (141 milhões de euros), confirmando assim o cenário de dificuldades no acesso a divisas em Angola, devido à quebra na cotação internacional do barril de petróleo.

Consultas feitas pela Lusa em alguns bancos de Luanda resultam na praticamente generalizada impossibilidade de fazer levantamentos de dólares ao balcão, no imediato, com os clientes a recorrerem ao mercado informal para obterem divisas, onde as taxas de câmbio dispararam.

Em todo o mês de outubro - ainda com 1 dólar negociado a menos de 100 kwanzas - o BNA vendeu diretamente aos bancos comerciais, excluindo assim as compras aos clientes, 1.530 milhões de dólares (1.361 milhões de euros) em divisas.

O novo governador do BNA, José Pedro de Morais Júnior, garantiu, na sexta-feira passada, após tomar posse, que os "fundamentos macroeconómicos" do país estão "sob controlo", apesar das dificuldades provocadas pela queda da cotação internacional do petróleo.

"É verdade que o momento é particularmente difícil. O que tenho a dizer é que os fundamentos macroeconómicos do nosso país mantêm-se sólidos e sob controlo", afirmou José Pedro de Morais Júnior, que entre 2002 e 2008 liderou o Ministério das Finanças de Angola.

Com a diminuição das receitas oriundas do petróleo - a cotação internacional do barril de crude caiu para metade em nos últimos seis meses - reduziram-se também as divisas que entram em Angola.

O novo governador salientou ser "evidente" o momento de "dificuldade" vivido pelos países exportadores de petróleo, como Angola, sendo por isso "necessário afinar alguns instrumentos".

"E é justamente isso que o senhor Presidente da República tem vindo a fazer nas últimas semanas. Estamos todos confiantes e gostaria já de deixar uma recomendação a todos os agentes do sistema financeiro nacional para assumirem as suas responsabilidades e, com serenidade, tentarmos levar a cabo e ultrapassar o mais depressa possível este pequeno momento", declarou.

José Pedro de Morais Júnior referia-se às restrições que a banca comercial angolana está a aplicar às operações financeiras e com cartões, nomeadamente envolvendo divisas, decisões às quais o BNA afirma ser alheio.

O novo governador "recomenda" aos bancos comerciais que adotem "medidas corretivas", rejeitando, ao ser questionado pelos jornalistas, uma situação de pânico financeiro junto dos clientes, que se queixam da falta de acesso a dólares.

"Não há razão para isso [pânico financeiro]", atirou.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana a seguir à Nigéria, atividade que representou no ano passado 76 por cento das receitas fiscais do país.

PVJ // ARA

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