A cerimónia de entrega das caixas contendo o espólio de Tristão de Bettencourt, que inclui correspondência, informação estatística, dados financeiros e fotografias, decorreu no Arquivo histórico de Moçambique, que passa também a contar com cópias digitalizadas de toda a documentação.

"É um período crucial, porque é a II Guerra Mundial", observou Alfredo Caldeira, que representou a Fundação Mário Soares na entrega do espólio, destacando o valor deste acervo documental, num período em que Marcelo Caetano era ministro das Colónias, e que inclui relatos de cenas de pugilato entre um pró-alemão e um pró-britânico no Hotel Polana, na capital moçambicana, além de cartas dos antigos cônsules das potências beligerantes.

Alfredo Caldeira recordou que a história deste espólio começou há seis anos, por intervenção do ex-ministro da Ciência Mariano Gago, que decidiu reunir e tratar a informação e enviá-la para Moçambique, um trabalho realizado desde então pela Fundação Mário Soares.

"É fundamental que continuemos a nossa cooperação", afirmou Alfredo Caldeira, considerando que a "história comum, para o bem e para o mal, tem de ser continuada e tem de ser recuperada muita informação que falta em Portugal e em Moçambique".

O diretor do Arquivo Histórico de Moçambique assinalou, por seu lado, que este é o tipo de iniciativas estimuladas pelo Conselho internacional de Arquivos, esperando que a documentação de Tristão de Bettencourt interesse a estudantes e investigadores e que a colaboração com entidades portuguesas se mantenha.

Joel Tembe lembrou a entrega à entidade moçambicana de um espólio do século XVIII e dos arquivos da PIDE depositados na Torre do Tombo, manifestando o desejo de poder aceder em breve aos arquivos desclassificados do Ultramar dos anos 1970.

Para o embaixador de Portugal em Maputo, José Augusto Duarte, "esta colaboração entre portugueses e moçambicanos, desta feita através da Fundação Mário Soares, mostra que a diversidade de contactos, não apenas entre estados, mas também de organizações da sociedade civil e instituições privadas, são absolutamente fundamentais".

A Fundação Mário Soares tem-se dedicado à recuperação e tratamento de documentação dispersa sobre a história recente de Portugal e suas antigas colónias, tendo acervos consideráveis sobre a resistência timorense, o fundador do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) Amílcar Cabral, o ex-líder do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) Mário Pinto de Andrade, ou o pintor moçambicano Malangatana Valente Ngwenya.

O espólio de Tristão de Bettencourt está disponível no site www.casacomum.org.

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